Real (X) Imaginário

Esse é meu primeiro texto sobre o imaginário. Nele vou tentar tratar da diferença entre o Real e o Imaginário sem estabelecer um consenso sobre esse tema. Minha explanação será como uma partilha de estudo com alguns acréscimos de reflexões pessoais.Estou me interessando cada vez mais por esse campo e sinto a necessidade de compartilhar as descobertas por meio de texto e posteriormente videos, por isso escrevo.  

Inicialmente vou tentar trabalhar a problemático do real e o imaginário a partir de seu significado do senso comum: (o primeiro significado que encontrar no google). Real: o que não é falso, ilusório ou artificial. Imaginário: criado pela imaginação e que só nela tem existência; que não é real; fictício. No sentido comum percebe-se claramente que um se opõe ao outro, partindo então dessa dialética iniciarei a discussão com um exercício imaginativo. 

Um copo está em cima de uma mesa redonda, ao redor há quatro cadeiras. Todo cenário flutua por cima de uma imensa montanha. 

Nesse trecho acima eu narrei um cenário. Inicialmente trouxe a imagem de um copo, depois o situe em cima de uma mesa, apresentei as cadeiras. Cada substantivo evoca um conjunto, uma intenção de imagem. A medida que escrevia, a imagem-palavra se mostrava em um contexto, o copo por exemplo ao imaginá-lo me veio preenchido com água. Na ação criadora, então, eu interferi no contexto modificando-o. Ao final da sentença tentei quebrar uma expectativa apresentando os objetos flutuando por cima de uma montanha. Vou pedir agora que vocês imaginem por alguns segundos cada objeto da sentença, um objeto de cada vez. Copo. Mesa. Quatro cadeiras. Montanha. As imagens apareceram vinculadas à um contexto ? De que forma elas apareceram ? Descreva as imagens. 

Copo. 

Mesa.

Quatro cadeiras.

Montanha. 

Tudo acima foi um tentativa de construir uma interação direta com o imaginário. Há muitas formas de relacionar-se com essa camada profunda de imagens. O que quis tentar mostrar com a parágrafo acima é a tendência quase autônoma dessa imagens, um fator que preenche os contextos. Um copo está em cima de uma mesa redonda, ao redor há quatro cadeiras. Vocês contextualizaram esse objetos em algum espaço?. Caso se esforcem em descrever o local onde os objetos supracitados estão, outros objetos e situações irão surgir. Talvez eles já haviam surgido antes mesmo da sugestão. Esse “surgir” caracteriza esse aspecto autônomo do imaginário. As imagens tomam o tempo das coisas. 

Ao confirmar esse caráter autônomo do imaginário, seu campo torna-se mais complexo. Ultrapassa o senso comum de que o imaginário é o oposto do real, de que é apenas um emaranhados de fantasias e imagens fictícias. A independência das imagens denota sua realidade efetiva, infectando diretamente o real, acrescentando diversas camadas de significado. Isso pode ser evidenciado também pelas narrativas que construímos no dia a dia. O mundo a nossa volta é permeado de significados de porquês e se atentarmos com cuidado percebemos que eles se constroem pelo imaginário. O dinheiro por exemplo se impregna de valor a partir de uma estrutura coletiva que afirma sua função, essa, é imaginária. É sustentada pela imaginação coletiva.

Estruturas imaginárias complementam, se inscrevem, impregnam o mundo. A narrativa em certo sentido é uma fruto do imaginário, um fio que liga fatos, coisas, pessoas por um significado. O real no sentido comum significa o que não é falso, ilusório ou artificial, e por inversão lógica: o que é verdadeiro. A verdade é uma meta para muita estruturas de pensamento, como a ciência positivista, é um ponto focal no qual o vetor dessa ciência se direciona, é uma grande fonte de significado. Entendo então o significado como fruto de uma narrativa e esta por conseguinte sendo uma estrutura imaginária, pode-se inferir que o real (o que é verdadeiro) senso comum, é imaginário. 

Todo o processo lógico que construí nos parágrafos anteriores teve como objetivo brincar com os conceitos de real imaginário a partir do senso comum. Construí alguns argumentos, com o que se entende de imaginário e o que se entende de real, mas para adentrar mais a fundo nesse debate é preciso entender o problema ontológico dessa dualidade Real X Imaginário. Para isso vou me basear no artigo Sobre o Imaginário de René Barbier. No trabalho o autor vai dividir a história do conceito do imaginário em três momentos. O primeiro é a fase da sucessão, trata-se do momento da filosofia ocidental antiga após os pré-socráticos, onde se estabelece um dualismo entre real e imaginário, com o conceito de imaginário posto de forma subestimada. O segundo é a fase de subversão, exemplificado pelo romantismo do século XIX onde o imaginário passou a ser um campo de realização, o único real como citado por Barbier. O terceiro é a fase da autorização onde se busca uma reequilíbrio das polaridades, compensando os extremos das fases anteriores. 

Irei continuar o estudo sobre o tema na próxima publicação onde buscarei entender como se constituiu a primeira fase do imaginário, a fase da sucessão. Seguirei fazendo uma publicação para cada fase.  

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